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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A LUDICIDADE E A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS: UMA PERSPECTIVA TEÓRICO-PRÁTICA

VALDIRENE DO CARMO DE JESUS SANTANA
Pedagoga pela UNEB - Universidade do Estado da Bahia



RESUMO

Este artigo visa reafirmar a importância da ludicidade na arte de contar histórias infantis, até porque provém de uma experiência realizada no Ensino Fundamental apresentada como possibilidade relevante no desenvolvimento da criança enquanto sujeito criativo, participativo e sociável. Dessa forma, promove uma reflexão significativa para o educador, porque vislumbra alguns encaminhamentos através do mundo da brincadeira e da fantasia, que possibilitam as crianças se tornarem leitoras de livros e da vida prazerosamente.

Palavras-chave: Ludicidade, Histórias Infantis; Socialização; Formação; Aprendizagem.


1 INTRODUÇÃO

O presente artigo trata-se de uma experiência adquirida através de uma pesquisa centrada em observações e intervenções no contexto escolar em turmas do Ensino Fudamental e, traz por objetivo principal promover reflexões sobre o processo de aquisição e troca de conhecimentos de forma lúdica na contação de histórias infantis, buscando sempre, por uma perspectiva teórico-prática promover reflexões acerca de uma ação educativa significativa no processo do desenvolvimento das potencialidades do indivíduo enquanto agente participativo, criativo e sociável, conhecedor da pluralidade que o cerca.
Com base nos experimentos na sala de aula e através de leituras e estudos realizados é possível mencionar a importância de todo educador incorporar em sua prática educativa a arte de contar histórias de forma lúdica, tanto no objetivo de propiciar diversão e prazer quanto no desenvolvimento das habilidades do indivíduo em formação. A criança aprende com mais facilidade quando as atividades a elas oferecidas são significativas, que envolvam seu cotidiano e que também, lhe apresente novos conhecimentos de forma instigadora, abrindo espaço para que ela socialize suas impressões. Por isso, é de grande valia apresentar as crianças textos infantis que tratem de temas variados para que elas internalizem um mundo de conhecimentos aliados às informações, que cada sujeito trás consigo, de sua experiência de vida.
Através das histórias infantis as crianças são incentivadas a internalizar por meio de atividades artísticas valores implícitos e explícitos no texto mediante produções de painéis contextualizados com as histórias no sentido de valorizar sua capacidade criativa e inventiva, podendo explorar o limite dos dois mundos, o real e o da fantasia de forma simultânea, e o exercício da recriação de fatos e lugares mediante a contação das histórias e desenhos livres, podendo se expressar através de uma grande variedade de materiais, contemplando, deste modo, a ludicidade, a alegria e ao mesmo tempo o desenvolvimento das potencialidades de criar, socializar-se e interar-se.
O lúdico na arte de contar história se constitui, então, numa ferramenta importantíssima na formação do indivíduo enquanto sujeito pensante, portanto ao ser empregado como fonte de diversão e prazer motiva os alunos a uma aprendizagem significativa e não apenas como mero decodificador do código escrito. E assim, podemos “considerar as atividades lúdicas como recursos que possibilitam a expansão da consciência e o desenvolvimento do ser humano, abrindo espaço para novos níveis de percepção de si e do seu entorno” (PEREIRA, 2004, p.82).

2 O LÚDICO E SUAS HISTÓRIAS

Na Idade Média, a criança era considerada um adulto em miniatura e as atividades lúdicas, semelhantemente a Literatura eram direcionadas aos adultos, e as mesmas brincadeiras eram praticadas por adultos e crianças, evidenciando a desvalorização da infância. A partir do século XVIII, quando a criança começa a ser compreendida como um ser diferente do adulto que necessita de uma educação diferenciada, a ludicidade juntamente às histórias infantis começa a fazer parte dos discursos acadêmicos adquirindo uma roupagem e um conteúdo voltados aos interesses das crianças. E a junção desse dueto: Ludicidade e Histórias Infantis definem no processo de ensino e aprendizagem um aspecto prazeroso e significativo.
No século XIX, quando parte do mundo tomava uma tendência capitalista e os ideais da Revolução Industrial norteavam os discursos sociais, a Literatura em geral recebeu aprimoramentos estéticos no intuito de atrair e agradar leitores. No Brasil, a literatura infantil passa a ser mais valorizada e recebe um conteúdo mais voltado para o interesse das crianças.
E o adentramento das histórias infantis no contexto escolar aconteceu entre os séculos XVIII e XIX, geralmente escritas por professores e pedagogos, traziam uma intencionalidade educativa no sentido de transmitir regras e valores de conduta, sendo mais uma tentativa de modelar os infantes para atender as exigências do mundo adulto. Nesse contexto, as escolas começam a compreender a importância de se montar um arsenal bibliotecário, porém, até hoje, não se empenham em ações que estimulem seus alunos ao prazer da leitura.
É nesse sentido que a ludicidade abre caminhos para que as histórias infantis cheguem na sala de aula não mais para cumprir uma obrigação didática de leitura, onde o aluno é obrigado a responder questionários exorbitantes sobre o texto lido, às vezes, sem ter pelo menos compreendido o que está em suas entrelinhas. O lúdico, nessa perspectiva, abre caminhos para que as histórias infantis sejam apresentadas de várias maneiras e de forma dinâmica, capaz de proporcionar momentos divertidos de aprendizagem e estabelecer entre contador e ouvintes um laço de emoção e comunicação. O educador que reconhece a importância da contação de histórias no contexto escolar, também reconhece que essa prática ao se solidificar como um ato enfadonho, pautada no ler por ler ou apenas na interpretação e reconto dos textos não remete os ouvintes ao prazer, e sem o sentimento de prazer o próprio ouvinte classifica o ato de ler como uma tarefa árdua e desprovida de significado.
O lúdico, ao ser conceituado como o ato de brincar, abrange qualquer jogo, brinquedo ou brincadeira, isso não quer propor que o momento de ouvir histórias seja desprovido de intencionalidade, mas que a intenção submersa na prática lúdica na contação de histórias seja para a construção de um sujeito politizado e autoconsciente, conhecedor da pluralidade que o cerca e, não para mera reprodução dos ideais de uma sociedade preconceituosa e acrítica.
Para tanto, a ludicidade na arte de contar histórias exige que o contador aprecie o seu trabalho buscando se aperfeiçoar cada vez mais, sabendo selecionar as histórias que serão apresentadas aos seus ouvintes, se preocupando em antecipadamente conhecê-la e estudá-la evitando uma narração gaguejada e insegura para garantir a atenção de todos os envolvidos no espaço de contação, buscando assim, emocionar e emocionar-se, dando vida aos personagens para que exista uma reciprocidade de prazer entre quem conta e quem ouve a história. Braslavsky (1993), diz que:

Os jogos e histórias devem estar presentes no cotidiano escolar, pois favorece a aprendizagem através do interesse que as crianças têm pelos mesmos. Mas há que se ter em mente uma preparação do professor para que o aluno esteja motivado (p, 97).

Também, inserir os contos infantis no cotidiano da escola envoltos de diversão e prazer desperta o interesse das crianças pela aprendizagem, logo que elas aprendem com maior facilidade o que parece mais interessante para elas. Esses textos quando contemplados de forma lúdica se adequa como ferramenta capaz de contribuir para a construção de um sujeito pensante, criativo e socializador, não apenas mero reprodutor do código escrito. As atividades propostas aos educandos ao apresentar caráter motivador ampliam o interesse deles pela leitura; e a possibilidade de se propor vivências prolongadas de emoções, prazer e fantasia pelo desenvolvimento de propostas lúdicas por parte do educador é satisfatória na contribuição da formação do indivíduo enquanto sujeito, logo que por meio dessas propostas as crianças possam ser chamadas a discutir e perceber o que se passa no interior das histórias confrontando os saberes trazidos pelos livros com os seus conhecimentos prévios, conseguindo perceber a fronteira existente entre o mundo da brincadeira e da fantasia e o mundo real em que vive, deste modo compreender a realidade do seu contexto podendo reconhecer o que nele necessita ser modificado.

Mesmo havendo uma distância significativa entre o comportamento da vida real e o comportamento do lúdico, a atuação no mundo imaginário e o estabelecimento de regras a serem seguidas criam uma zona de desenvolvimento proximal, na medida em que impulsionam conceitos e processos em desenvolvimento (REGO, 1995, p.83).

Portanto, ao se considerar que o lúdico e a literatura infantil devam ocupar espaço central na educação, cabe ao educador oferecer às crianças subsídios para que elas se desenvolvam e por meio dessa experiência partilhar suas aprendizagens, ampliando sua relação com o outro e com todo o meio exterior através de atividades lúdicas que favoreçam a interação e a socialização do indivíduo. Por essa ação, possibilitando “uma forma de ascender às culturas e modos de vida como produção, e não apenas consumo” (WAJSKOP 2001, p.112).

3 O PROFESSOR E O PRAZER DE CONTAR HISTÓRIAS

Todo trabalho do profissional da educação precisa se vigorar baseado num conhecimento pluralizado e numa contínua reflexão sobre sua prática na sala de aula, pois a valorização do profissional pedagogo está aliada à importância da reflexão sobre o quanto é imprescindível possuir uma clara identidade sobre sua atuação, fazendo-se apto a identificar com precisão problemas contínuos no ensino e na educação sendo capaz de tomar as providências eficazes para garantir um sólido desenvolvimento dos educandos.
Deste modo, pode-se afirmar que considerando as limitações e inúmeras dificuldades existentes nas instituições públicas de ensino, o professor que possui um fazer pedagógico comprometido com seus educandos consegue desenvolver um trabalho lúdico com os livros infantis pautado em procedimentos e atividades que possibilitem, da melhor forma, que os alunos atinjam o objetivo de aprender, considerando também, quais as histórias que as crianças gostariam de conhecer e o que é necessário conhecer para que ocorra a construção da autonomia e criticidade do educando.
Para tanto, a velha forma de se trabalhar a contação de histórias na sala de aula, caracterizada como cansativa e obrigatória, precisa ser modificada, pois o saber não deve ser imposto, mas degustado. Sobre isso Rubem Alves (2000) nos diz que os professores deveriam aprender com os cozinheiros, imitando os que preparam as coisas boas e ensinam sabores.

[...] que a cozinha fosse a ante câmara da sala de aula, e os professores tivessem sido antes, pelo menos nas fantasias e nos desejos mestre-cucas, especialistas nas pequenas coisas que fazem o corpo sorrir de antecipação (p.194).

Nessa perspectiva, o professor apresenta o perfil de um profissional que reconhece a necessidade de proporcionar aos educandos o contato diário com o mundo dos contos e da fantasia de forma lúdica, em conformidade com atividades que possibilitem discutir e refletir sobre a realidade social para a construção de um sujeito sociável e autoconsciente.
E o lúdico na arte de contar histórias mesmo não sendo uma tarefa complexa, exige muita reflexão a ser empregada como desafio na busca de contribuir para a construção do conhecimento de uma forma que encanta. Rubem Alves diz, “que antes da técnica de ensinar é preciso conhecer a técnica de propiciar prazer” (2000, p, 73). Portanto, o sucesso dessa prática está centrado no despertar da atenção dos ouvintes, e “contar histórias é uma arte [...] e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido como o que é sentido e por isso não é remotamente declamação ou teatro[...] ela é o uso simples e harmônico da voz” (ABRAMOVICH,1989, p.18).
Nessa perspectiva, a prática pedagógica como o uso do lúdico na arte de contar histórias, precisa ser concebida como um ato de reflexão-ação. Um educador capacitado para administrar as situações de socialização geradas por essa ação analisa os fundamentos dessa prática e as devidas conseqüências produzidas em sala de aula. Sabe-se que nem todos os professores tiveram na sua formação esse conhecimento, entretanto, ressaltar a importância de buscá-lo é inevitável. Nesse sentido, considera-se necessário à formação em serviço como a condição necessária para o desempenho competente da atuação docente, possibilitando a formação de um profissional comprometido que tenha condições de garantir habilidades precisas para uma participação social, autônoma e crítica, tendo clareza de que essa atuação leva a obter indicadores sobre a adequação da metodologia, das dinâmicas e da organização, proporcionando conhecimento e atitudes que permitam construir uma prática competente e socialmente comprometida.
A educação continuada demonstra mais segurança do profissional, levando-o a realizar avaliações periódicas do seu modo de agir em sala de aula, usando isso para uma constante modificação e direcionamento de mediador com interferências valiosas no desenvolvimento da aprendizagem, participando assim do processo de evolução do aluno.
A contação de histórias de forma lúdica na atuação docente deve direcionar para uma atuação voltada para a modificação da estrutura montada para aceitação, reprodução e conformismo, observando as diferenças perpetuadas pela grandeza do universo humano, onde devemos vislumbrar um encaminhamento voltado para atividades que propiciem prazer e dê grande significância aos educandos. A atuação didática deve ser a demonstração contínua de um compromisso com o conhecimento. Conforme Ivani Fazenda (1998):

Os saberes pedagógicos, em si, não modificam a ação de educar, não gera novas práticas. Compete-lhes alargar o conhecimento que os professores tem de sua ação sobre a própria ação de educar, nos contextos onde se situam (escolas, sistemas de ensino e sociedade). É no confronto e na reflexão sobre a prática e os saberes pedagógicos e com base neles, que os professores criam novas práticas (p.172).

Nessa ponderação, através das experiências adquiridas nas observações e intervenções no contexto escolar, percebemos o quanto é imprescindível à consciência docente sobre a importância da ludicidade na arte de contar histórias respaldada pela formação continuada e no planejamento contínuo. Nesse pensamento, é que foi levada aos alunos das séries iniciais de escolas da rede pública proposta de contação de histórias de forma lúdica objetivando uma ação que possibilitasse vivências prazerosas envoltas de intencionalidade educativa no sentido de propiciar um ambiente de aprendizagens dinâmico de socialização e discussão do conhecimento.
No acontecimento das reflexões obtidas em nossa intervenção no espaço da sala de aula pensamos a prática pedagógica no modo de desenvolver formas mais estimulantes de se trabalhar os contos infantis com as crianças de 1ª a 4ª série, levando em consideração o processo de aquisição, interação e troca de conhecimentos. Nos primeiros contatos dialogamos com a turma sobre a faixa etária dos estudantes, contexto social e o que gostariam de conhecer, portanto, “dentre os vários indicadores que nos orientam na seleção da história destaca-se o conhecimento dos interesses predominantes em cada faixa etária” Coelho (1991, p. 14).
Desta forma, nos preocupamos em selecionar o material que coincidisse e que também confrontasse os conhecimentos já trazidos pelos os alunos. A partir de uma diversidade de temas discutimos fatores sociais e sugerimos atividades que pudessem tratar de vários temas ao mesmo tempo, pois queríamos proporcionar às crianças um ambiente de sensações estimulantes, com contos que os remetessem à suas realidades e as fizessem conhecer a dos outros, colocando, então, os educandos em contato com outras culturas e, mediante esse conhecer cultivar a maturidade para compreender, respeitar os diversos modos de vidas e, se necessário propor mudanças à sua realidade.
Para isso, levamos à sala de aula diversas propostas de atividades que contemplavam pinturas individuais e coletivas, teatro de máscaras e fantoches feitos pelos alunos, oficinas de contos e leituras, histórias com textos e sem textos, contos e recontos com ampliação de figuras centrais dos contos etc. E a partir do assunto que a história trazia, desenvolvíamos essas ações de forma lúdica e aproveitávamos para introduzir conteúdos de ordens gramaticais, estruturas textuais, discussão de povos e culturas, família, religião, animais, sinais de trânsito, urbanização, povoamento rural, unidade, dezenas, centenas, contagem do tempo, operações matemáticas, entre outros. Conseguindo assim, apresentar aos alunos exemplificações no mundo da fantasia traçando paralelos entre história e realidade, e deste modo transformar a sala de aula num ambiente interativo onde a aprendizagem passa ser buscada por todos os envolvidos: professor e aluno, de forma espontânea e provida de significado.
Uma das formas de conseguirmos que os alunos atuassem como participantes ativos dos momentos de contação da história era contá-la confeccionando, juntamente a eles, um mural com o nome da história a ser contada, distribuindo imagens do texto entre a crianças e, na medida que fosse mencionado um personagem ou uma ação, quem estivesse com a figura correspondente se encaminharia de mostrar para a turma e colar ordenadamente no mural que, depois de montado passava a fazer parte do cenário da sala de aula. Os alunos se reuniam em grupos para que apresentassem à turma uma história, conforme sua criatividade, sendo essa, mais uma oportunidade de fortalecer um elo de criação, autonomia, socialização e interação entre os educandos, fazendo com que eles percebessem seu mundo, suas dificuldades, seus sucessos. É interessante ser montado na sala de aula um festival de contação de histórias, contemplando as diversas formas de se contar: teatro, dinâmica, narração etc, como forma de fortalecer os laços de interação, socialização e cooperativismo entre os alunos.
É nesse ensejo, que o educador tem a oportunidade de inserir nas relações de aprendizagens livros infantis que tratem de diversos temas em suas entrelinhas: respeito ao outro, cidadania, etnia, família, religião etc., e formar na sala de aula um campo de socialização considerando os conhecimentos prévios trazidos por cada aluno. Nesse sentido, a escolha das histórias quando categórica aliada ao desencadeamento das discussões feitas pelo professor, não tende a transmitir uma visão sobre os temas de maneira fragmentada, pois alguns textos infantis trazem em seu conteúdo representações ideológicas e culturais que podem colocar as crianças num campo conflituoso entre o seu meio social e o do “outro”, sendo muitas vezes usada como fonte de dominação ditando um modelo de conduta padronizado. Porém, mais que uma manifestação de ideologia e cultura, o mundo literário das crianças precisa ser utilizado como ferramenta capaz de ampliar as percepções do mundo em sua pluralidade. Eis a necessidade do educador selecionar obras que tratem de temas atuais e universais.
E o professor ao abrir espaço para que os alunos levem livros para a sala de aula, encorajando-os a fazer uma narrativa quer de criação própria ou terceirizada, os estimulando para, por si mesmos, se encaminhem de apresentar para a turma, poderá estar contribuindo para uma boa relação interpessoal do grupo e também aproveitar este momento para buscar conscientizar a turma sobre a importância de ouvir e respeitar o colega. Esse momento é propício para que educador problematize uma discussão em torno do que foi lido.
Nesse sentido ouvir e contar histórias são fatores determinantes para que um indivíduo se auto-observe como sujeito contextualizado, assim como formar uma visão social de si próprio e do resto do mundo. A incumbência da escola está em gerir o processo de ensino-aprendizagem através do despertar do prazer da leitura por meio dos contos infantis, não adotando como função pedagógica o ato de contar e ouvir histórias pautado no sentido exclusivamente didático, como instrumento de sedução, porém como ferramenta capaz de contribuir e desenvolver o indivíduo em formação, proporcionando um ambiente socializador de modo a conduzir à realidade social, formando um sujeito politizado e auto consciente, conhecedor da pluralidade que o cerca.
É no contato com os livros que as crianças têm a oportunidade de re-significar os seus modos de vida, pois quando utilizados como instrumentos de criticidade em relação tanto ao modo de ver a si próprio como no modo de refletir o mundo torna-se ferramenta importante na formação do indivíduo.

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias [...] Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo [...] (ABRAMOVICH, 1991, p.16).

Sem sombra de dúvidas, os contos infantis são muito importantes na formação do indivíduo. “Quando ouve uma história, a criança desenvolve a capacidade de ouvir [...] Na verdade, mais que desenvolver na criança a capacidade de ouvir, a história contada ensina uma maneira de ouvir que fala do significado da vida” (FARIA e MELLO 2005, p.10). E é essa faculdade, que garante ao aluno confrontar com seus conhecimentos prévios o que está sendo socializado e, ressignificar sua visão de mundo.
As histórias infantis na sala de aula permitem criar entre educando e educador condições para que cada um exponha seu ponto de vista contribuindo para fortalecer os laços de interação e comunicação, e deste modo, abrir um espaço de socialização e discussão do conhecimento.

4 SALA DE AULA: ESPAÇO POSSÍVEL DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS INFANTIS.

Mesmo com os aprimoramentos das histórias voltadas para o público infantil e seu andentramento na educação, a escola brasileira ainda não incorporou à sua prática as histórias infantis como parte do cotidiano da sala de aula, mas continua presa na prática voltada para mera reprodução dos saberes, sendo que, por outro lado, ela tem a faculdade de oferecer aos indivíduos possibilidades de construir sua autonomia, de se desenvolver e a traçar os seus próprios caminhos.
É muito comum se ouvir de pais, educadores e dos próprios alunos relatos de seus desprazeres em relação ao hábito da leitura. “Muitas e diferentes razões são apontadas para o fato: descuido familiar, decadência do ensino, excesso sociais com muita forma de diversão etc” (CUNHA, 1998, p.9). Portanto, a escola que se dedica a revisar a sua atuação quanto agente educativo e formativo consegue compreender que o desejo pela leitura emerge de uma relação de diversão e cumplicidade, onde a criança a partir do prazer de ouvir uma história cria um elo de identificação com o texto e aliada à sua relação com os seus co-ouvintes e co-leitores encontra gostos e desejos apreciáveis em suas fantasias, faixa etária e relações com o cotidiano. Pois,

Nenhum tipo de leitura é tão enriquecedor e satisfatório do que os contos, pois eles ensinam sobre os problemas interiores dos seres humanos e representam soluções para qualquer sociedade. Ou seja, a fantasia ajuda a formar a personalidade e por isso não pode faltar na educação (REVISTA NOVA ESCOLA, set. 2005, p.54).

E o desafio da escola está em gerir a prática pedagógica que sustenta pautando-se no ideal de emancipação do sujeito, tendo em vista o incentivo à formação continuada do professor no sentido de subsidiar o exercício do seu trabalho na sala de aula, de modo que ele possa oferecer aos seus alunos um conhecimento diversificado baseado numa maneira de contar histórias por uma perspectiva lúdica na tentativa de que os momentos de aprendizagens não sejam repressores e dolorosos, mas que aconteça cheio de encantamento e contemple uma intencionalidade educativa não no sentido de moldar a criança conforme um modelo dito ideal de comportamento e compreensão social.
Nessa afirmativa, a ludicidade e as histórias infantis por criar um mundo de faz-de-conta descaracteriza a escola como um ambiente punitivo e cheio de cobranças e regras sem sentido. A escola ao ser concebida como fonte de prazer dá aos seus alunos a oportunidade de brincar, de sorrir, de voltar no dia seguinte no interesse de adquirir mais conhecimentos, então, não caberia a ela se constituir num campo de treinamento e preparação, mas antes, ambiente de aprendizagens e formação do indivíduo enquanto sujeito criativo, autônomo e autoconsciente. Luckesi (2004) nos diz que:

Uma prática educativa lúdica possibilitara a cada um de nós e nossos educandos aprendermos a viver mais criativamente e, por isso mesmo, de forma mais saudável transitaremos com mais facilidade para o estado de “clareza”, em busca de soluções criativas para o nosso cotidiano, assim como também transitaremos facilmente para o estado focado (exatidão) quando necessitamos de agir praticamente, tendo em vista realizar as soluções que acessamos. (p, 19).

E quando a escola não trabalha adequadamente suas propostas lúdicas, acaba cumprindo um papel que não é seu, podando a criatividade e independência da criança, portanto, quando aceita como um ambiente favorável a permitir às crianças vivências com a ludicidade consegue proporcionar um conhecimento que favoreça a relação dos indivíduos com suas fantasias, com a formação de sua personalidade, com o outro, com o mundo.

A ludicidade, ocupa lugar significativo no desenvolvimento humano. É também uma forma de apropriação do mundo e expressa-se, simbólica e concretamente, em objetos reais e sensíveis ao homem, ou seja, nas linguagens e nos instrumentos. Ocupando este lugar, a ludicidade amplia os estados da consciência e a atividade, contribuindo o desenvolvimento das relações sócio-culturais. (RESSURREIÇÃO, 2007, p.44)

Validando essas propostas, afirmamos o lúdico na contação de histórias como uma importante possibilidade de proporcionar à comunidade escolar um mundo de faz-de-conta e fantasia, e através desse mundo traçar paralelos com a nossa realidade e com a realidade dos outros. Contar história de forma lúdica não se caracterizada como o afastamento do indivíduo do mundo real, mas propiciar mediante ao mundo imaginário momentos de prazer, de diversão e, deste modo colocá-lo em contato com as diversas linguagens, as diversas culturas, apresentar o mundo de maneira dinâmica, trocar conhecimentos, discutir a solução dos problemas da humanidade.
Assim, a ludicidade e as histórias infantis se constituem em um dueto que se completam por ambas propiciarem à criança entrar no mundo da fantasia por meio do estímulo da criatividade, dando a ela possibilidade de construir símbolos, cenários, personagens e outras manifestações de sua criatividade. Essa arte-ludicidade mantém a força de permitir que as crianças se interajam exteriorizando suas impressões e se permitindo conhecer a dos outros, assim contribuir para a formação de sua personalidade.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil. São Paulo: Scipione, 1989.

______. Literatura infantil: gostosuras e lobices. 2. ed. São Paulo: Editora Scipione , 1991.

ALVES, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2000.

BRASLAVISKY, Berta. Escola e alfabetização: uma perspectiva didática. Tradução Vera Maria Mazagão Ribeiro. São Paulo: UNESP, 1993.

COELHO, Betty. Contar histórias uma arte sem idade. 4. ed. São Paulo: Ática, 1991.

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura infantil: teoria e prática. 17. ed. São Paulo: Ática, 1998.

FARIA, Ana Lucia Goulart; MELLO Suelly Amaral (Orgs). Linguagens infantis: outras formas de leitura. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Didática e interdisciplinaridade. Campinas, SP: Papirus, 1998.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Estados de consciência e atividades lúdicas. In: PORTO, Bernadete de Souza (org). Educação e Ludicidade. Salvador: UFBA, 2004.

PEREIRA, Lucia Helena Pena. Ludicidade em sala de aula: montando um quebra cabeça com novos sabores e saberes. In: PORTO, Bernadete de Souza (org). Educação e Ludicidade. Salvador: UFBA, 2004.

REGO, Tereza Cristina. Vygotsky: uma perspectiva cultural da educação. 4.ed. Petrópolis. RJ: Vozes, 1995.

RESSURREIÇÃO, Sueli Barros. Trabalho e ludicidade: um jogo na formação do ser humano. In: PORTO, Bernadete de Souza (Org). Educação e Ludicidade. Salvador: UFBA, 2004.

Revista Nova Escola/ setembro de 2005: 52 – 55.

WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 2. ed. São Paulo: Globo, 1985.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A arte de sentir



Que música é a arte de manifestar os diversos afetos da alma já sabemos... Mas, fazer com que ela se manifeste são outros quinhentos. Sentir a música está além da perfeição da melodia executada, muitos decodificam as notas divinamente bem, porém se preocupam tanto com a perfeição que ao terminarem não sentem nenhum regozijo, tocam tão preocupados com a reputação de bons músicos que mal conseguem satisfazer a si próprios, que diremos aos ouvintes? Então quando tocares, que seja de alma... Se Entregue, entre na melodia, permita que ela te toque...Manuseie o instrumento como se tivesse tocando nos seus próprios órgãos dos sentidos. Executar corretamente a música é preciso, é bonito, mas a perfeição só existe quando somos capazes de permiti-la adentrar nosso ser, mesmo que errando uma nota ou duas...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Educação não é obrigação apenas da Escola

Não se pode perder de vista a abrangência do termo “educação”, que age como catequizadora e inseridora dos humanos no aglomerado cultural onde se relacionam, moldando-os constante e gradualmente conforme as exigências impostas por ele. É a representação de todo o complexo de aceitações, normas e valores inseridos em cada sociedade distintivamente, está intrinsecamente ligada à escola, mas não é função exclusivamente desta a transmissão dos requisitos educadores, que atua simplesmente como reforçadora e ampliadora das informações, pois na verdade a família e o próprio meio de convívio do cidadão o educa. “Não há uma forma única nem um único modelo de Educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece”.(BRANDÂO, 1999).

A Educação permite ao indivíduo um grau maior de reflexão em torno da realidade em que participa, seja ela de cunho social ou não e, ainda deve proporcionar a esse indivíduo a sua adaptação ao meio e a descobertas das maneiras de como combater e alterar as imposições massacradoras do Estado. Também o faz ser aceito como "humano" para a visão política, econômica e sociocultural. Apenas um homem “educado” é capaz de transformar a sociedade, pois possui maior facilidade de perceber os problemas sociais.

A educação não funciona somente como a transmissora de saberes e conhecimentos, ainda permite que as pessoas encontrem por si só, saídas para se libertarem das dificuldades que as cercam, e a responderem por si mesmas. “Para além da questão da socialização ou da construção dos saberes, o processo educativo é indispensável para a estruturação da pessoa; ele deve criar condições para que o sujeito, desafiado por uma situação sem saída, possa tornar-se ator de sua própria vida, abrindo-se a novas possibilidades”. (Marpeau, 2002).

As responsabilidades com todas as funções educativas foram automaticamente transferidas da família para o Estado, e este, dissimuladamente, as lançou sobre as escolas, que sobrecarregadas nunca conseguiram exercer o papel que lhe foi imposto. Por tal fato ao longo da História surgiram várias tendências com objetivo de aprimorar o modo de se educar, e hoje, mesmo que se prega uma educação voltada para a análise crítica das realidades sociais - a chamada “Progressista” - não deixou de ser usado o modelo educativo tradicional, ou melhor, na verdade foi feita uma verdadeira unção - ainda que imperceptivelmente, a forma trabalhada nas escolas reúne características de todos os tipos de pedagogias defendidas no decorrer dos tempos.

E melhor do que nunca o processo educativo está sendo responsável pela formação de indivíduos sociais capazes de ter uma visão panorâmica do contexto global, permitindo-lhes maior questionamento e resoluções dos problemas sociais decorrentes. Mais eficaz ainda será se essa melhoria nortear a realidade municipal e, conseqüentemente, nacional, legitimando a formação de cidadãos críticos e autônomos intelectualmente, suficientemente capazes de propiciar intervenções significativas na sociedade.

Referências
BRANDÃO. Carlos Rogério. O que é Educação? São Paulo: Editora Brasiliense, 1999.
MARPEAU, Jacques – O Processo Educativo – A Construção da pessoa como sujeito responsável por seus próprios atos. Porto Alegre, ArtMed, 2002.

Bibliografia

Educação não é obrigação apenas da Escola por Valdirene do Carmo

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O PRECONCEITO RACIAL NA EMPRESA É PRÁTICA TÃO DIFUNDIDA QUANTO DANOSA





A discriminação nas sociedades humanas é um quesito além de bastante difundindo, pernicioso e, onde existe a diferença, existem indivíduos prejudicados por pertencerem a um ou outro grupo que foge a determinadas normas. Ela é prática quase universal, entretanto nem todas as discriminações são iguais, a diferença fundamental é o grau. Em muitos aspectos da vida, a discriminação é difícil ou impossível de se medir, mas, em outros, a sua mensuração é possível.

No decorrer histórico: escravos pobres, rejeitados, açoitados, analfabetos, operários, entre outros, foi a maneira como a imagem do negro pôde ser incorporada pela sociedade e influenciar no contexto atual, e embora sendo um assunto bastante discutido a sua exclusão ainda é eminente quando se trata do acesso à igualdade e ao bem estar social.

Os seres humanos, ao longo do desenvolvimento das diversas culturas, puderam construir a sua existência pautada na habilidade maior ou menor de dominar o Universo, através do significar e ressignificar dessas habilidades encontraram formas mais propícias de se impor no ambiente e alcançaram estágios mais complexos de desenvolvimento. Ao administrar sua capacidade de dominar o ambiente, o homem, provocou uma abordagem que se desencadeou na sustentação das relações de trabalho e, conseqüentemente o surgimento de duas classes: uma opressora e outra oprimida.

Como todos os espaços e tempos são mutáveis essas relações não poderiam permanecer constantes, mudando apenas as condições de opressão. “Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestres e companheiros, numa palavra, opressores e oprimidos” (Marx apud
Sant’ Anna 2002, p.44). Apenas os tipos particulares de classificação se alteraram, obviamente, com o passar do tempo, porém, os preconceitos profundos passam diretamente de um sistema social para o outro se adequado aos interesses das classes exploradoras. Dessa forma, o racismo persistiu como um instrumento de opressão e discriminação em sua história, fato que conduziu os negros para empregos de status
inferiores
e menores remunerações. Nesse sentido, abordar o mercado de trabalho no Brasil é retomar o processo de constituição da ideologia racial implementado por intelectuais e pelas classes dominantes.


A desvalorização do negro se dá dentro de um contexto histórico pautado da relação de escravidão ao processo de economia moderna, devido ao seu passado escravo e tardia inserção à educação e no mercado de trabalho, teve como conseqüência um posicionamento desfavorável e desigual no que diz respeito à distribuição de renda, educação e profissões.

As estruturas do Mercado de trabalho sendo de cima para baixo, tendenciou privilegiar os indivíduos brancos, dificultando o acesso de outros grupos étnicos, baseados na ideologia da superioridade de capacidade desses indivíduos.

Diante disso, essa idéia de inferioridade norteou os sujeitos negros e, ainda, contribuíram para legitimar a discriminação racial no mercado de trabalho brasileiro que até hoje sustenta a desigualdade de oportunidades entre os grupos raciais. Diante dos integrantes de algumas profissões é possível perceber que na maioria delas, principalmente as de alto nível de aceitação, são compostas por brancos. No decorrer da história das sociedades a maioria das empresas tinha preferência por um certo tipo de empregado que fossem influenciados pelos mesmos estereótipos e mesma concepção de vida. Hoje a situação necessita e deve alterar-se.


A opção por uma equipe de trabalho multicultural e multirracial é a melhor solução que qualquer empresa pode adotar. Além de propiciar vantagens a empresa por ficar imersa a concepções pluralizadas, traz a idéia de ceder oportunidade a qualquer pessoa independente de sua cultura, cor ou credo.

A afirmação da identidade cultural negra nos remete à discussão acerca da participação e acesso a oportunidades sociais, como a inserção irrestrita dos negros no mercado de Trabalho. Desta maneira, provocar o resgate de prejuízos ocasionados pela escravidão cuja prática segregativa fez com que muitos resquícios coloniais e imperiais ainda apareçam hoje. Nesse sentido, a tolerância e o respeito às diferenças são alguns pressupostos à inclusão do negro na sociedade.

A reparação da inserção do negro no Mercado de Trabalho vem sendo na verdade um desafio na luta pela igualdade racial, onde precisa estar relacionada a movimentos políticos e sociais que compactue ajustes de inclusão racial no Brasil. Visto que, se faz necessário, atentar para as falsas preleções antidiscriminatórias sobre o negro, muitas vezes escondidas no discurso da diferença pregado por muitos, ou para escapar das pressões de aparelhos ideológicos do Estado.

Essas questões raciais são mitos também introduzidos no diálogo das empresas, que muitas vezes escondidas no discurso de que respeita as diferenças, negam suas afirmações quando tem sua equipe de trabalho visivelmente “embraquecida”. A existência de desmerecimento entre raças dentro da empresa geralmente não é exteriorizada, portanto em outros momentos e contextos, se autodenunciam por meio de situações nas quais o preconceito racial se faz presente. A discriminação em nosso país é densamente dissimulada.


Talvez não se comercialize mais o corpo do negro ou do trabalhador como noutro tempo, porém, infaustamente, se negocia com a sua identidade, atribuindo-lhe uma carga de desvantagem e segregação que se iguala à venda de seu corpo.


Bibliografia: Sant’Anna, Sílvio L. Marx: vida e pensamentos. Ed. Martin Claret. São Paulo, 2002.


Dia de MorrenDo

Iiii...Q dia chatinho hoje...a hora não passa.. não passa...não passa...não...passa...passa...hora..passa!

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